39 REVISTA P. Outra das características da nova li-derança é o seu elevado componente digital. O papel dos líderes empresariais nas RS tem de mudar? Já é inevitável estarmos presentes nas redes? R. É um assunto que também entra na esfera pessoal. No meu caso, estou presente nas re-des sociais como presidente da CEOE e acho que é mais uma forma de dar visibilidade às nossas ações e de demonstrar transparência. Também é um canal muito direto para trans-mitir questões, que talvez não possam ser tratadas com humanidade suficiente através dos canais habituais de comunicação. Estou convencido da proximidade com as empresas e os cidadãos, embora isso nos exponha a críticas em muitos casos. P. A generalização do teletrabalho é ou-tra consequência desta pandemia. O que acha disso? Esta forma de trabalhar vai influenciar a forma de liderar e gerir as equipas R. Temos vindo a dizer na CEOE, desde o início da pandemia e da expansão do tele-trabalho, que este veio para ficar, mas que o mais adequado talvez seja pensar num mo-delo misto em que, embora todos possamos beneficiar das vantagens do trabalho remoto, como por exemplo, tudo o que contribui para alcançarmos a sustentabilidade; também é aconselhável manter o contacto que ocorre nos locais de trabalho. É fundamental. É uma forma de gerar equipas, culturas empresa-riais e, por que não, é uma forma de evitar a chamada “síndrome da cabana” que, por exemplo, muitos trabalhadores que traba-lham a partir de casa e sozinhos sofrem a longo prazo. Nesse sentido, acredito que é possível liderar perfeitamente trabalhando à distância, mas dando mais espaço para a responsabilidade por parte do trabalhador e alicerçando a li-derança numa confiança maior nas pessoas. Porém, insisto que, neste contexto atual, em que, como já dissemos, os líderes serão mais empáticos, inclusivos, emocionais... o que nos dá o contacto pessoal com as nossas equi-pas para nos mantermos atualizados com as nossas empresas, as necessidades dos trabalhadores, é algo insubstituível e, nesse sentido, quem apostar com mais intensidade no teletrabalho terá de encontrar a forma de conseguir essa proximidade, tanto quanto possível. P. Sempre defendeu o comércio, o grande e o pequeno. Sem dúvida, a pandemia e as mudanças nos hábitos de consumo também influenciaram este setor. Na sua opinião, devemos todos ser mais soli-dários agora com o nosso comércio local? R. Devemos todos ser mais solidários com todos. O comércio local, sem dúvida, tem sofrido durante a pandemia, como muitos outros setores para os quais a CEOE tentou obter medidas que aliviariam a sua situação no diálogo social com o Governo e sindicatos. Porém, ao mesmo tempo que estamos nesse esforço, temos de trabalhar noutras frentes: prestar atenção às medidas de segurança sanitária, fazer testes massivos, multiplicar os rastreadores para que possamos ir a essas lojas com confiança. Também é preciso traba-lhar para que os fundos europeus que ainda estão para chegar sejam utilizados da melhor forma possível, promovendo, por exemplo, a digitalização das PME.